sábado, 30 de novembro de 2019

MEU Luto


Continuando, de certa forma, a reflexão anterior, me pergunto: seria eu tão "privilegiada" ao ponto de nunca imaginar que isso poderia acontecer comigo? Que não seria atingida? Que nunca vivenciaria o luto por um bebê. 

Ou simplesmente será que eu fugia do pensamento apavorante de um dia experienciar esse trauma? Claro, a morte sempre ronda nossos pensamentos, pois, obviamente, é a unica certeza que se há; mas não nas circunstâncias em que fui pega. Me pergunto como eu, que sempre quis ser mãe, que sempre quis família grande e, mais relevante, que nunca teve perdas gestacionais e que já tinha duas meninas saudáveis, nascidas a termo, podia em algum instante imaginar passar pela tormenta de ter um filho prematuro? E de atravessar dois longos meses, para depois perdê-lo?

Frase enviada por minha cunhada Marcia: "Porque NÃO comigo?"


Retorno constantemente a casos próximos de nós e que já me chocavam antes dessa experiência: (se me permitem) o da minha cunhada e irmão que perderam o filho ainda na barriga aos quase 6 meses, o da minha amiga que perdeu sua menina com 8 meses e, por fim, um dos mais impiedosos e que mais me abalam (não que a dor de cada uma de nós seja menor), o caso de outra grande amiga que descobre um tumor no filho e o perde aos 5 anos de idade. Sem esquecer da nossa linda Ju que, acometida por leucemia aos 33 anos, parte deixando seu filho de 4 anos e sua mãe , que até hoje quase 10 anos depois continua desconsolada. E , sim, vale relembrar aqui o que sempre escutamos - cada dor é única e só se sabe o que sente quem está passando por ela. Cada mãe tem sua história exclusiva. Assim como um filho não substitui o outro. 


Lembro que já encarava todas essas histórias com medo, compaixão, com embrulho no estômago e empatia. Mas fugia do pensamento para si. Corria do monstro que me apavorava, sem olhar para trás. Mas aconteceu. Ele foi mais rápido e me alcançou. Esse monstro do luto e da perda está me devorando. Devora minha mente, minha carne, meu coração. Hoje sou eu que ocupo o lugar da mãe que chora sangue. 


Meu luto também terá seu tempo, assim como todas essas pessoas tiveram o seu. Minha ferida continua aberta, exposta.. Uma das coisas mais coerentes que escutei dia desses, justo desta amiga que perdeu a filha foi "..o sol se levanta e a gente sente que está em outro movimento, que a noite nunca acaba.."


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