quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

NÃO ESQUEÇO (nem um segundo)

Filhinho,

Já estamos em 2020.. e nas minhas projeções de 2019 e pensamentos lá atrás, se você tivesse vindo no tempo certo, por agora estaria com mais ou menos um mês de vida.
Como dói pensar que, na verdade, faz mais ou menos esse tempo que você se foi. Você partiu exatamente no período em que nasceria.
A frase que mais tem ecoado na minha mente esses últimos dias - principalmente nessas “festividades” de fim de ano- foi: “as pessoas esquecem mais rápido que a gente imagina”.
Li essa afirmação num relato de um pai que perdeu sua filha com poucos dias, no Instagram de “O Luto do Homem”. Desde então, isso tem ido e vindo na minha cabeça. Como se esquecem, como nos esquecem, meu filho. Mais rápido que pensamos, mais rápido que desejamos. “A vida segue” , muitos dizem e sentem. E claro, a vida segue sim para todos, mas pra mim , calma lá. Não tão rápido!!

Comentei isso com minha amiga (a mesma que já falei , que já passou por esse luto) e ela disse mais uma vez algo certíssimo: “A vida segue normalmente para as pessoas, a nossa vida é que para no tempo. Vc vai perceber isso.”
Mais do que a questão de parar no sentido de movimento, eu diria que o pior é sentir uma solidão tremenda, um abandono,a falta de uma simples curiosidade de como podemos estar. E somente quem passou por isso, normalmente é quem pergunta, é quem tem também “coragem” de tocar no assunto... é quem dá o ar da graça de vez em quando.
E eu acho impressionantemente CEDO pra ‘seguir a vida’... até pra estar melhor.. Dia desses ouvi comentarem que eu tive uma ‘recaída” pelo natal. Recaída??? Nossasinhora, estou em pleno e exposto luto!! Como que posso ter caído de novo se nem cheguei a levantar ainda?! Além do que , teve algo muito importante que aprendi nesse processo: a gente não supera a dor e a perda, porque NUNCA vou conseguir superar, mas sim ressignificamos essa perda. E se tem uma coisa que não dá, não quero, reluto.. e é impossível é esquecer de você. É não pensar e falar de você.
EU não tenho medo de falar disso tudo. SE EU NÃO FALAR (ou escrever) de você , COMO te manterei vivo aqui na minha memória e na minha vida?
Mas noto que a maioria das pessoas, dos amigos, receiam em tocar no assunto. Ou por medo de nos machucar. Ou de SE machucar. Ou mesmo, pior, acham que eu possa trazer uma vibe ruim ou pensamentos tristes e negativos. (Aliás, sobre isso , estava lendo dia desses um texto em torno de “positividade tóxica”, e li coisas incríveis de uma psicóloga: “..Sabe aquela ideia de que existe uma espécie de tirania da positividade em que só é permitido expressar, falar, os sentimentos “bons”? ..quanto mais a gente ignora os nossos sentimentos, mais perdemos a nossa habilidade de lidar com eles. E isso é tão perigoso quanto uma bomba-relógio.”

E as pessoas se esvaem, se afastam, silenciam.
Enquanto que pra mim uma simples e rápida pergunta “como você(s) está (ão) , Leticia?” pode ser tão significativa, tão forte e tão acolhedora . E tão arrebatadora também, porque quem sabe eu estou realmente a fim de contar como eu tenho estado.




Enfim, termino com um textinho escrito poucas horas antes de virar o ano:
Nesta década eu senti as emoções mais imensuráveis. Da alegria à tristeza, da plenitude ao vazio absoluto. Tive três filhos e perdi um. Nina abriu o decênio em 2010, Lela animou o 2014, e em 2019 , ah esse ultimo ano! ...comentei que ele foi o pior da minha vida! Mas tenho que lembrar e admitir que, além da partida, foi o ano da concepção, nascimento e (breve) vida de Nicolas. E ele sempre, sempre estará entre nós.
Se eu pudesse (mesmo que num desenho), acrescentaria a esta foto um anjinho com suas asas no colo da mamãe ou do papai.

Adeus 2010-2019... sejamos fortes para este novo desafio chamado 2020.

“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”
(Belchior)





5 comentários:

  1. Eu lamento Letícia, não sei nem oque dizer,é difícil dizer qualquer coisa, nessse momento tão difícil, mês que vem faz 1 ano que meu pai se foi em meus braços e até hoje nãos cena tá na minha cabeça, é mentira que o tempo cura tudo, por mais difícil que seja a gente aprende a viver com essa dor. Mas esquece nunca esquecemos. Onde quer que o Nico esteja ele está olhando vocês,e feliz por ter uma mãe maravilhosa como você,um pai e irmãs. Ele será eterno na vida de vcs e vcs na vida dele. Um forte abraço

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    1. Oi katiane, muito obrigada pelo comentário e apoio. Sinto muito pelo seu papai, dói pra caramba também (perdi o meu há 15 anos e ainda tenho uma saudade gigante) .
      Ps- de onde você é? Como conheceu?
      Abraços, Leticia

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  2. Oi Letícia, fui criada em orfanatos, no último em que morei o Rodrigo era o Diretor coordenador. Tempos atrás eu estava passando por problemas muito difíceis, procurando ajuda no Google encontrei o contato dele, que me encaminhou para os serviços necessários/terapia/psiquiatra, etc. aí então passei seguir vcs no Instagram e vi sua postagem sobre o Nico, lamento muito,aí vi o endereço do seu blog que vc deixou, li tds os textos , me emocionei, um mais lindo que o outro, fiquei comovida com seu amor de mãe (pois nunca soube oque é isso) . Você é um exemplo de mãe, mulher. Você é maravilhosa seus 3filhos são sortudos em tê-la como mamãe. Um forte abraço a vc e td família

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  3. Nossa, agora me emocionou muito. Muito obrigada, Katiane. Modéstia parte, acho que sou sim um boa mãe, pelo menos amor sobra...
    Lembro do seu caso, Rodrigo comentou comigo. Sucesso e saude na sua vida. Abraços, Leticia

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  4. Não tem nada que agradecer, eu que agradeço . Muitíssimo obrigada . Namaste ����

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